Prêmio Veja Saúde Oncoclínicas de Inovação Médica
09/09/2025

Conheça os vencedores do Prêmio VEJA Saúde Oncoclínicas de Inovação Médica 2025

Projetos de ponta em inteligência artificial, tecnologias diagnósticas, medicina de precisão, entre outros, mostram como a ciência e a inovação estão transformando o cuidado com a saúde no Brasil.

IA NA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL EM SAÚDE

Telemonitoramento do coração por smartwatches

A recuperação de uma cirurgia cardíaca costuma trazer desafios, entre eles episódios de arritmias nos primeiros dias pós-procedimento. Essa fase de convalescença, portanto, demanda monitoramento contínuo, e as modalidades remotas representam um caminho promissor para estender os cuidados fora do ambiente hospitalar. Esse é o princípio do estudo conduzido no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HCMUSP) que investigou a viabilidade e os benefícios da integração de tecnologias vestíveis em protocolos pós-operatórios. A equipe comparou a jornada de dois grupos: pacientes foram telemonitorados por smartwatch contendo algoritmo de detecção de arritmias associado a uma plataforma web, por sua vez integrada ao prontuário eletrônico do hospital. Os demais foram submetidos ao tratamento padrão na instituição. Os participantes do primeiro grupo utilizaram o relógio inteligente por 30 dias, registrando dados como pressão arterial, saturação de oxigênio e frequência e ritmo cardíacos. As informações eram automaticamente sincronizadas com a plataforma web, e os resultados demonstraram alta sensibilidade e precisão na detecção de fibrilação atrial, uma das arritmias mais comuns. Comparada ao grupo controle, a turma telemonitorada apresentou diferenças estatisticamente significativas nos parâmetros medidos. Ao longo do período, foram gerados mais de 17 mil alertas, a maioria associados a alterações cardiorrespiratórias. Além de se provar capaz de vigilância contínua e favorecer a agilidade na tomada de decisão clínica, a iniciativa viabilizou a construção de um banco de dados que subsidiará o desenvolvimento de modelos preditivos baseados em machine learning. 

Tecnologia vestível e inteligência artificial no pós-operatório cardíaco: inovação em telemonitoramento e detecção precoce de eventos críticos

Autores: Camila Rodrigues Moreno, Rosangela Monteiro, Guilherme de Castro Machado Rabello, Matheus Santos Moitinho, Pietro Colonna Carlotto de Oliveira Martins, Bruna Mendes Mariano, Fabio Antero Pires, Nelson Samesima, Luiz Antonio Machado César e Fábio Biscegli Jatene.
Instituição: Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HCMUSP)

ENGAJAMENTO E EMPODERAMENTO DO PACIENTE

Impressão em 3D na assistência pré-natal

Entre as malformações congênitas – alterações na estrutura ou função do coração –, as cardiopatias fetais são as mais prevalentes. Diagnosticar o mais cedo possível é crucial para a decisão sobre como tratar para evitar complicações. E a compreensão das mães sobre a condição é ponto-chave nesse contexto. Uma equipe do Laboratório de Biodesign da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) liderou o primeiro projeto no Brasil com uso de impressora 3D unindo obstetrícia e psicologia para promover impacto direto na experiência da gestante. Com o objetivo de substituir explicações abstratas por representações visuais e táteis das malformações do coração dos fetos, o grupo produziu modelos cardíacos em 3D impressos a partir de imagens de ecografia. A estratégia foi usada para engajar as mulheres durante o pré-natal, propiciando compreensão, vínculo emocional e confiança nas decisões médicas. No estudo, as gestantes participaram de sessões educativas com modelo mostrando o tamanho real do coração do bebê e outro ampliado cinco vezes para ressaltar detalhes da cardiopatia. Após essa manipulação, elas relataram maior clareza sobre a anatomia fetal e melhor entendimento da condição do bebê. Além disso, a maioria contou ter sentido menos ansiedade e mais segurança emocional. O método também fortaleceu o vínculo com o bebê e aumentou a confiança para discutir opções de tratamento. As respostas credenciam a impressão 3D como uma ferramenta eficaz para empoderar os pais, incentivando a participação ativa no pré-natal, além de melhorar a comunicação com a equipe médica e promover um cuidado pré-natal mais empático e participativo. Paralelamente, serve como instrumento pedagógico para capacitação de equipes médicas, melhorando o planejamento cirúrgico e a educação em saúde.

Utilização de modelos físicos do coração fetal na assistência pré-natal

Autores: Pedro Paulo Pereira Viegas Ramalho, Heron Werner, Maria de Fátima Monteiro Pereira Leite, Carla Verona Barreto Farias, Camilla Mannarino Calil, Julia Juliasse, Luiza Novaes, Gerson Ribeiro, Vinícius Arcoverde, José Gabriel Nunes, Gabriella Marques Castanhede e Roberta Portas.
Instituições: Laboratório de Biodesign da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e Instituto de Estudos em Tecnologia da Saúde (Ietecs)

TECNOLOGIAS DIAGNÓSTICAS

Estratégia para agilizar exame de visão de pessoas com diabetes

A retinopatia, problema na retina causado pelo excesso de açúcar no sangue, é uma das complicações mais comuns do diabetes e uma principais causas de deficiência visual e cegueira em todo o mundo. Ela também é, porém, uma doença evitável – o dano visual pode ser prevenido quando tratado de forma precoce. Para isso, é importante lançar mão de métodos de rastreio, com pacientes realizando avaliação ocular periodicamente. Em países de baixa e média renda, entretanto, diagnosticar e oferecer tratamento o mais cedo possível é um desafio. Por essa razão, especialistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conduziram um estudo de implementação de um fluxo híbrido de teleoftalmologia, com avaliação por meio de inteligência artificial e encaminhamento de quem apresenta sinais de retinopatia diabética. Funciona assim: utilizando um retinógrafo portátil de baixo custo, um tecnólogo captura as imagens oculares, que são imediatamente analisadas por um sistema de inteligência artificial do aparelho e enviadas para um servidor em nuvem para avaliação remota por oftalmologistas. Pacientes com imagens classificadas pela IA como alteradas são agendados para consulta presencial com especialista em retina. No primeiro ano, foram incluídas 801 pessoas acompanhadas no Centro de Diabetes da Unifesp. Os efeitos do projeto foram imediatos, reduzindo drasticamente o tempo de espera entre o exame e o início do tratamento. A iniciativa mostra que, tanto no Sistema Único de Saúde como no privado, a triagem automatizada por meio da IA e de novas tecnologias é recurso para uma medicina exercida de forma democrática, ágil e eficaz.

Revolução na retina: IA e telemedicina levam diagnóstico rápido a pacientes com diabetes

Autores: Stefano Neto Jai Hyun Choi, Fernando Korn Malerbi, Vagner Rogério dos Santos, Luis Filipe Nakayama, Sergio Atala Dib, Paulo Schor e Caio Vinicius Saito Regatieri.
Instituição: Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

MEDICINA SOCIAL

Cuidando de quem cuida da floresta

Na Amazônia, onde o acesso à saúde pública especializada é limitado, a ONG Zoé oferece uma resposta prática e de alto impacto. A estratégia combina hospital flutuante, expedições terrestres, telemedicina e capacitação local, em associação com o Sistema Único de Saúde (SUS) e universidades. Com tecnologia e equipamentos portáteis modernos, como ultrassons e videocolonoscópios de alta definição, fornecidos por empresas parceiras, é possível priorizar pacientes com mais risco, organizando filas de cirurgia e oferecendo acompanhamento pós-consulta a distância. Os voluntários aplicam protocolos médicos e metodologias atualizadas e reconhecidas internacionalmente. Exames como colonoscopias, ultrassons e endoscopias garantiram tratamentos precoces, prevenindo complicações graves. Além de reduzir filas e deslocamentos, o modelo contribui para a permanência das famílias em seus territórios, reforçando o vínculo social e ambiental com a floresta. Entre julho de 2024 e junho de 2025, a Zoé gerou resultados imediatos: foram 91 cirurgias realizadas, com redução do tempo de espera pelos procedimentos em até 70% em Belterra (PA), por exemplo. Mais de 200 atendimentos psicológicos e psiquiátricos contribuíram para a melhoria da saúde mental local. Sem contar que, ao capacitar mais de 200 profissionais das próprias comunidades nesse período, a Zoé fortaleceu a rede local de assistência, garantindo continuidade no cuidado entre as expedições. A experiência acumulada em dez anos de atividades da ONG mostra o potencial do uso criativo e eficiente de recursos para superar barreiras geográficas, logísticas e financeiras.

Zoé: cuidando de quem cuida da floresta

Autores: Marcelo Averbach, Andréia Laplana e Plínio Averbach.
Instituição: ONG Zoé - Associação de Apoio à Saúde de Populações Remotas

TERAPIAS E TRATAMENTOS INOVADORES

Estratégia para potencializar terapia celular

O uso de células CAR-T é uma abordagem inovadora para indivíduos com tumores hematológicos resistentes às terapias convencionais ou que passam por recaídas. A técnica é baseada na reprogramação, em laboratório, de linfócitos T, células de defesa coletadas do próprio paciente e depois reintroduzidas na corrente sanguínea para reconhecer e eliminar o câncer. Embora tenha alcançado sucesso inicial em tumores como linfomas e leucemias, cerca de 50% das pessoas deixam de responder ou apresentam recorrência da doença devido à exaustão celular, principal barreira terapêutica dessa imunoterapia. Em busca de uma solução para esses casos, a iniciativa liderada pelo A.C. Camargo Cancer Center investiga se a modulação epigenética, ou seja, mudanças na expressão de alguns genes, pode restaurar a efetividade da terapia celular. No estudo, a equipe identificou que a inibição de um complexo de proteínas denominado PRC2 melhora a função das CAR-T, aumentando sua resistência, tanto em testes com células tumorais (in vitro) quanto em camundongos (in vivo). Em outras palavras, a intervenção proposta cria uma versão mais potente da CAR-T, com impacto direto na qualidade de vida dos pacientes. Os resultados foram publicados na revista Cancer Research, uma das mais relevantes da área oncológica, e, na visão da equipe, a estratégia tem aplicabilidade imediata, porque pode ser incorporada a terapias celulares já existentes.

Targeting PRC2 Enhances the Cytotoxic Capacity of Anti-CD19 CAR T Cells against Hematologic Malignancies

Autores: Maria Letícia Rodrigues Carvalho, Clara de Oliveira Andrade, Mariela Pires Cabral-Piccin, Gabriela Sarti Kinker, Glauco Akelinghton Freire Vitiello, Raylane Adrielle Gonçalves Cambuí, Luiza de Macedo Abdo, Eduardo Mannarino Correia, Bruno Dalbelo da Silva Elias, Emmanuel Vinicius Oliveira Araujo, Alexandre Silva Chaves, Pedro Henrique Barbosa, Karina Lobo Hajdu, Amanda Rondinelli, Arianne Fagotti Gusmão, Maria Luisa Marques Pierre, Igor Brasil-Costa, Caroline Pouza Zanella, Marta Maria Moreira Lemos, Marjorie Vieira Batista, Jayr Schmidt Filho, Cheryl Arrowsmith, Vladmir Cláudio Cordeiro de Lima, Martin Hernán Bonamino e Tiago da Silva Medina.
Instituições: A.C. Camargo Cancer Center, Instituto Nacional de Câncer (Inca), Instituto Evandro Chagas e Princess Margaret Cancer Centre

MEDICINA DE PRECISÃO E GENÔMICA

Genética da longevidade na prevenção do câncer

De acordo com os autores, este estudo, realizado na Universidade de São Paulo (USP), investiga um dos maiores paradoxos da genética oncológica: indivíduos que carregam variantes altamente relacionadas ao aparecimento de tumores, como no gene BRCA1, associado ao risco de tumor de mama e ovário, mas que atingem idades extremas sem jamais desenvolver a doença. As análises genômicas, clínicas e funcionais para entender os mecanismos biológicos por trás desse fenômeno revelaram que fatores genéticos protetores aliados a características imunológicas e endócrinas particulares podem mitigar a ameaça mesmo na presença de mutações consideradas de alto risco. A busca por explicações partiu de informações de uma coorte de nonagenários e centenários brasileiros, recrutados pelo Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP. A investigação incluiu os superidosos que se recuperaram de covid-19 antes da disponibilidade de vacinas no Brasil. Ao realizar o exoma completo, exame que analisa todas as regiões codificadoras do genoma humano, os cientistas identificaram em alguns participantes variantes associadas a condições graves, como predisposição ao câncer e doenças cardiovasculares. Compreender os fatores que conferem proteção natural a portadores de mutações patogênicas – e que, ainda assim, atingem mais de 90 ou 100 anos livres da doença – abre caminho para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção, triagem e tratamento oncológico. Além disso, os dados obtidos têm potencial para beneficiar diretamente a população brasileira, tornando a medicina de precisão mais inclusiva, efetiva e acessível.

Como a genética da longevidade pode revolucionar a prevenção do câncer: evidências de portadores de BRCA1 que atingem idades extremas sem desenvolver neoplasias

Autores: Mateus Vidigal De Castro, Cristina Sábato, Raíssa Modaffore Dandalo Girardi, Moníze Valéria Ramos da Silva, Michel Satya Naslavsky e Mayana Zatz.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP)

PREVENÇÃO E PROMOÇÃO À SAÚDE

Programa de saúde digital nas escolas

Iniciado há uma década em Santos (SP), o Jovem Doutor lança mão de tecnologias digitais para captar a atenção e promover a saúde e o bem-estar de jovens do ensino fundamental. Parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Secretaria de Educação de Santos, o programa se baseia em plataforma educacional, estúdio móvel, uso de inteligência artificial e kit de robótica, com conteúdo voltado a prevenção, autocuidado e cidadania nas escolas. A iniciativa conta ainda com a biblioteca do Homem Virtual, acervo de vídeos feitos por computação gráfica 3D sobre temas do corpo humano. Trata-se de um modelo que envolve a força estudantil para disseminar o conhecimento entre os alunos e que também extrapola os muros da escola. Com ações em torno de tópicos como prevenção de gravidez na adolescência, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), dengue e primeiros socorros, em 2024 a atuação direta dos estudantes impactados contribuiu para elevar a cobertura vacinal contra HPV de 40% para 90% em apenas dois meses. Ao longo dos dez anos, o Jovem Doutor alcançou mais de 3 mil alunos e, indiretamente, mais de 30 mil pessoas.

Jovem Doutor (saúde digital nas escolas e estação de telessaúde) e edu-fábrica (aprendizado vivencial em saúde com prevenção de doenças e promoção de saúde)

Autores: Maíra Lie Chao, Ana Lúcia Barboza Caetano de Jesus, Audrey Kleys Cabral De Oliveira Dinau, Daniele Fernandes Pena Carvalho, Maria de Lourdes Medeiros Batista, Juliana de Lira Colantonio e Chao Lung Wen.
Instituições: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Secretaria de Educação do Município de Santos

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